ORTOGRAFIA
"O momento crucial de toda a sequência da vida escolar é o momento da alfabetização."
Miriam Lemle.
Objetivo: Refletir sobre a nossa ortografia e suas convenções. Refletir sobre as convenções ortográficas no processo de alfabetização.
ORTO (correta) GRAFIA (escrita)- palavra de origem grega.
A maneira correta de falar é "erro de grafia".
Trabalhamos com o "texto bem humorado de Veríssimo acerca do Acordo Ortográfico".
O texto é muito interessante. Fala sobre as mudanças que estão ocorrendo agora no ano de 2008, com a reforma ortográfica.
Texto bem-humorado de Veríssimo acerca do Acordo Ortográfico
Os amigos reuniram-se à mesa do bar. Chegaram todos com um ar de preocupação. Sabiam que, desta vez, havia algum assunto sério a ser tratado entre as rodadas de cerveja geladíssima. Havia algo de grave na voz do Trema quando receberam a convocação por telefone. Chegaram quase todos ao mesmo tempo. O Ponto, a Vírgula, a Crase, o Ditongo, os gêmeos Acento Agudo e Acento Circunflexo, o Til – que levou o sobrinho porque não tinha com quem deixá-lo –, o Travessão e a Cedilha. O Sufixo, como sempre, chegou depois de todo mundo. Antes de pedir a primeira cerveja, o Trema foi logo falando, a voz meio embargada. Meus amigos, chamei todos vocês aqui porque o assunto é grave. Não vou enrolar porque considero vocês são como de minha família. Eu estou>no fim. Meus dias estão contados.>>O Travessão interveio, rápido.>>– Peraí. Não dá para engolir a seco uma notícia dessas. Ô, Cafu, desce>umas cervas aí, urgente, por favor!>>Alguns fizeram cara de espanto. Pura encenação. Lêem jornais,>portanto, já sabiam. Outros, como o Ditongo e a Crase, realmente se>assustaram.>>– Como assim? Você tá brincando, Tre! – disse a Crase, já com os olhos>marejados.>>– É a pura verdade. Pura e triste verdade.>>Tomou um longo gole de cerveja e explicou.>>– É a reforma ortográfica. Será implantada em 2008. Portanto, no ano>que vem eu não estarei mais aqui.>>– Não é possível! – reagiu o Ditongo, como sempre desavisado.>>– É sim. Eu mesmo li meu anúncio fúnebre na Folha de S.Paulo.>>Tira um recorte amassado do bolso da calça. Quase chorando, lê para os>amigos:>>– Abre aspas: O fim do trema está decretado desde dezembro do ano>passado. Os dois pontos que ficam em cima da letra u sobrevivem no>corredor da morte à espera de seus algozes. Fecha aspas.>>Silêncio na mesa.>>– Como vêem, são meus últimos dias. Tantos anos de serviços prestados>à língua portuguesa não valeram nada. Simplesmente decretaram dia e>hora para minha morte.>>– Meu Deus. Que absurdo! – reage a Cedilha, lutando para segurar as>lágrimas.>>– Pois é. Inventaram que é preciso unificar a ortografia entre os oito>países que usam a língua portuguesa. Argumentam que isso vai aproximar>as culturas. E eu, amigos, serei oferecido em sacrifício.>>Há um misto de perplexidade, revolta e pena em volta da mesa.>– Algum burocrata da ortografia decidiu que eu sou inútil. Acham que>eu ungüento aguado.>>– Aguado pode ser. Ungüento, não. Unguento – protesta o Travessão, sob>o olhar de reprovação geral.>>– Desculpe, mas vocês sabem: eu perco o amigo, mas não perco a piada.>>O Trema procura ignorar. Conhece o amigo há décadas. Sabe que ele não>perde a velha mania. Continua a conversa lamuriante.>>– Ainda quiseram me consolar, dizendo que eu, companheiro de vocês em>tantas jornadas, sobreviverei em nomes próprios. Balela. Eu>sobreviveria na Alemanha, com seus Günter e Müller da vida, mas aqui,>no Brasil, meu destino está selado.>>Pedem mais cerveja.>>– Por isso eu chamei vocês. Fiz questão que fosse aqui no Bar Azul,>que a gente freqüenta desde o tempo da faculdade. Aqui comemoramos>momentos felizes e choramos momentos tristes. Logo, só vocês poderão>freqüentar aqui. Eu serei apenas lembrança. Aliás, nem vocês poderão>freqüentar. Terão de frequentar.>>Todos se abraçam. Alguém propõe um brinde, dizendo que a amizade entre>o grupo permanecerá para sempre, mesmo que um dia reste apenas um para>beber no bar. É nesse momento que notam a ausência do Hífen.>>– Alguém sabe dele? – pergunta o Trema.>>O Acento Agudo sabe.>>– Não vem. Está deprimido. A reforma ortográfica também mexeu com ele.>O Hífen não será mais usado quando o segundo elemento começa com s ou>r. Ele já sabe que nesse caso será substituído pela duplicação das>consoantes. Sacaram? No futuro só haverá antirreligioso, contrarregra,>antissemita. Ele também deixará de ser usado quando o prefixo termina>em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente, como>extraescolar, aeroespacial e autoestrada.>>– O Hífen nunca lidou muito bem com as perdas da vida – lembra o>Trema. Mas pelo menos ele vai continuar existindo.>>– Todos nós saímos perdendo com essa reforma – pondera um dos gêmeos.>>– Eu, Acento Circunflexo, por exemplo, vou ser defenestrado das>terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo>dos verbos 'crer', 'dar', 'ler', 'ver' e seus derivados. Quando vocês>lerem 'crêem', 'vêem' 'lêem' e 'dêem' sentirão minha ausência. Também>vão me tirar das palavras terminadas em hiato 'oo'. Quem tiver enjoo>no voo não terá minha companhia.>>Seu irmão gêmeo também choraminga.>>– Vocês sabem que tudo que afeta meu irmão afeta a mim também –>intervém o Acento Agudo. Eu perderei minha função nos ditongos abertos>'ei' e 'oi' de palavras paroxítonas. Não me querem mais em 'idéia',>'assembléia', 'jibóia' e 'assembléia', por exemplo. Também ficarei de>fora nas palavras paroxítonas, com 'i' e 'u' tônicos, quando>precedidos de ditongo. 'Feiúra' e 'baiúca' passarão a ser 'feiura' e>'baiuca'. Mas nesses casos tudo bem. Eu nunca gostei de 'feiúra' e>'baiúca'. Duro mesmo é saber que serei extirpado sem dó nas formas>verbais que têm o acento tônico na raiz, com 'u' tônico precedido de>'g' ou 'q' e seguido de 'e' ou 'i'. Modéstia à parte, sempre me>orgulhei de dar um ar aristocrático a algumas formas de verbo. Ouçam>bem: 'averigúe', 'apazigúe', argúem'. Sem mim, isso não terá a menor>graça.>>– Só sobreviveremos em nossa integralidade nos livros da Antigüidade>-, observa o Trema, melancólico. E pensar que até Antigüidade vai>virar antiguidade... Imagine as conseqüências dessa mudança. Quer>dizer, as consequências...>>A esta altura, já estão todos meio embriagados. O Ponto, sempre>otimista, lembra que pelo menos um membro da turma sairá ganhando com>a reforma.>>- O Alfabeto, gente. Vão incorporar ao Alfabeto as letras k, w e y.>>- É por isso que ele não veio – explica a Vírgula. Disse que ia na>Leroy Merlin porque agora vai ter de aumentar a casa.>>Alguém chama o garçom.>>- Cafu, mais cerveja. Nós vamos agüentar firme, aqui com o Trema.>Vamos abrir uma trincheira etílica em defesa do nosso velho e bom>amigo.>>Propõem outro brinde. E voltam a chamar o garçom, que já se distanciava.>>- Traz também uma porção de lingüiça calabresa. Sem cebola. Mas não>esquece do trema, por favor!
Deve-se frizar que a mudança é na ortografia e não na língua.
E estas mudanças está dando o que falar em nosso curso. Imagine na sala de aula... Os alunos também gostam de ficar perguntado sobre o que mudou e o que continua. Então tenho que pegar o embalo e explicar o que querem saber.
A tutora Adriana falou sobre o Guia teórico do alfabetizador de Miriam Lemle e Guia prático do alfabetizador de Marlene Carvalho.
Quando ela começou a falar dos guias, senti como se tivesse na época da faculdade. Até porque tive que ler os dois. Em minha dissertação da graduação pode ser encontrada algumas citações de Marlene Carvalho. Apesar de serem guias antigos, muitas coisas podem ser aproveitadas. E eu ainda aproveito-as.
No encontro de hoje debatemos sobre dislexia e outras dificuldades. Pude falar da minha experiência com uma aluna que tem este distúrbio. Apesar do cansaço fiz alguns comentários...
Miriam Lemle, afirma que é importante brincar de ler com a criança (trabalhar algo que elas já conheçam como música, rima, poesia). Quando trabalhava com turmas de alfabetização fazia isto. E dá certo. Mas é um trabalho lento e longo. É preciso se empenhar e acreditar no trabalho que está sendo realizado.
Foi explicado sobre a alfabetização de 1ª ordem e de 2ª ordem. Onde na 1ª é trabalhada as letras p/b/t/d/f/v/a. Segundo Miriam Lemle. E na 2ª a criança começa a perceber que um som pode ser representado por várias letras. E uma letra pode representar vários sons.
Para maiores esclarecimentos recomendo ler o Guia teórico do alfabetizador de Miriam Lemle e o
prático de Marlene Carvalho.